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Foto do escritorFernanda Abundantia

Primeiro estágio: Calcinação




A calcinação, o primeiro estágio da alquimia espiritual, também é conhecida como estágio negro. A cor preta representa o caos, aquilo que está escondido e enterrado, e a matéria do inconsciente. Também se refere à Matéria Prima, que é a ideia nas ciências ocultas de que toda a matéria do universo surgiu de uma base original e primitiva.

A calcinação refere-se à queima da Matéria Prima até que ela se transforme em cinzas. No sentido espiritual, refere-se à ruptura com os nossos apegos mundanos, ao desejo de status, à riqueza e à necessidade de solidificar a nossa identidade. Não quer dizer que estas coisas sejam erradas, mas de acordo com o processo, o desenvolvimento de um nível mais elevado de consciência e o refinamento do espírito são dificultados por estes apegos.


A calcinação também se refere à queima de todos os elementos supérfluos de nós mesmos que não nos servem mais. Somos purificados pelo fogo, e as partes endurecidas e mortas de nós mesmos foram queimadas. As nossas noções preconcebidas sobre a nossa identidade e as nossas crenças são postas à prova na fase de calcinação. Nossas ideologias e neuroses começam a diminuir o controle sobre a persona, permitindo que o verdadeiro espírito de cada um desperte. O estágio de calcinação foi comparado à Noite Escura da Alma. Este poema do século XVI descreve a jornada da alma para a unificação com Deus, por meio da qual nossa antiga visão de mundo é desmantelada e passamos por uma espécie de crise existencial. O início do desenvolvimento espiritual é tipicamente árduo, pois os nossos antigos laços de identificação não são mais válidos e ficamos cara a cara com o vazio.



2018 – Neste momento se iniciava uma grande transformação em minha vida e não tinha nenhuma ideia do que estava por vir. A realidade continha eu vivendo uma vida que criei e sonhei por tanto tempo. Mudei para a Europa com uma oferta de emprego para fazer o que eu amava. Viajar pelo mundo fortalecendo parcerias e criando novos negócios. Minha linha 4 sucedia muito bem nessa tarefa. Consegui um belo apartamento com um salário bem acima da média europeia. Eu estava definitivamente me sentindo próspera e feliz. Ou condicionalmente feliz. Uma felicidade baseada no ego. Meu Quiron na casa 2 me diz que meu senso de valor próprio estaria atrelado às minhas conquistas financeiras e materiais. E o que o Universo faz? Me joga onde eu tenho a linha de Quiron no ascendente. Essa linha em qualquer outro ângulo não ia representar o sentido que ela tem no meu papa. Ou seja, de um mundo inteirinho eu fui direcionada para ir ao epicentro da minha dor de alma.

E minha identidade estava basicamente ligada ao que eu fazia no trabalho e ao quão longe eu havia progredido em minha carreira. Algo que a sociedade inclusive corrobora para que alimentemos essa percepção. Masa realidade é que isso está longe, muito longe de ser quem somos.


Naquela altura ainda não conhecia a Astrocartografia que acabei por descobrir alguns meses depois. E sabe aquele clichê, tudo acontece no tempo divino? Obviamente se eu conhecesse Astrocartografia não escolheria Barcelona para morar com certeza, sabendo da minha linha de Quiron. Então, essa informação me foi apresentada, quando eu já tinha decidido que iria ficar. Para realmente me ajudar e suportar no processo.

Um ano depois que cheguei, a empresa onde eu trabalhava decidiu eliminar o cargo que me ofereceram e me chamaram para voltar ao Brasil. O que não fazia sentido para mim. A mente condicionada diria que isso era em realidade o mais sensato a se fazer. Mas meu eu superior me dizia que não. A pressão de voltar atrás e tentar me convencer de que estava fazendo algo muito irresponsável foi enorme. Mas naquele momento da minha vida eu já havia tido experiências suficientes de que valia a pena seguir a voz interior.


E então, escolhi deixar “Tudo” para trás. Tudo o que eu sabia, Dizendo não a todo conforto e segurança. Sem garantias. Incluindo minha identidade e quem eu pensava que era. E tudo o que me ensinaram que eu deveria ser, pois todos nós vivenciamos isso em nossas vidas desde a infância. Muitos padrões passam por nós. Muitas projeções do que é correto e do que não é. Muitas expectativas externas.

Além disso, ninguém entenderia minha decisão e poucos a apoiariam. E esse é o primeiro passo que enfrentamos no caminho. Ter que ir além das expectativas e perdoar aqueles que não foram capazes de nos apoiar, entendendo que não era sobre nós, mas sim a própria crença limitante e não confiança que eles tem em si mesmos.


O regente do meu mapa é Marte, o planeta da ação e estratégia, coragem, em Escorpião na casa 8. A casa da Fénix do trabalho de sombras, da psique, ad morte e do renascimento.

E eu disse a mim mesmo: Ok, estou aqui, disposto a perder tudo, a ir o mais fundo que puder. Estou corajosamente escolhendo o medo ao invés do conforto. Quero que você me mostre as sombras que passam por mim. Quero que você me mostre todas as facetas do ego. Estou aqui. Rendendo-me a um poder superior a mim.

Apegos externos, bem como conceitos internos e outros assuntos do ego. Quem era eu se não tivesse nada que o mundo considerasse um sucesso? Quem era eu se não cuidasse da minha imagem conforme os padrões? Especialmente sendo mulher, temos muito mais pressão para parecer algo aceitável pelos padrões sociais. E muitas outras camadas...

Os meses se passaram e todos os processos que envolvem um despertar espiritual aconteceram. Eu estava sem emprego, sem amigos ou comunidade, sem dinheiro, mas o que eu tinha era tempo e uma vontade de descobrir o que tinha lá no fundo daquele poço.



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